quinta-feira, 28 de julho de 2016

O fatwa do Aiatolá Nougué.


Você já ouviu falar do Crislã? Essa é uma mistura sincrética de Cristianismo e Islã que teria surgido na Nigéria nos anos 80.

Temo que o tradicionalismo católico brasileiro esteja sendo invadido por uma onda de "crislamização" ou algo do gênero. Nesse sentido, temos já um grupo de jihadistas católicos armados se formando nas redes sociais, e que, vira e mexe, vem postar comentários neste blog, parasitando nosso trabalho para atrair simpatizantes para sua causa enquanto atacam, frequentemente pelas costas, os que aqui escrevem.

Outro sinal dessa tendência é o post do Prof. Carlos Nougué no site Estudos Tomistas em 19 de julho deste ano. Intitulando-o "Os católicos e as manifestações do próximo dia 31", Nougué fez mais do que simplesmente convocar seus leitores para que saiam às ruas nesse dia em protesto contra o Governo Dilma e os políticos corruptos. Abusando do tom grandiloquente e do estilo um tanto enfadonho que lhe é peculiar, ele não redigiu uma mera postagem: ele emitiu foi um verdadeiro fatwa!

Uma das coisas mais repulsivas que um religioso jamais deveria fazer é tentar transferir às suas conclusões pessoais, por natureza falíveis, a autoridade pétrea que sua religião sempre tem entre seus irmãos de fé a fim de convencê-los a concordar consigo por atribuírem incautamente à sua opinião pessoal o mesmo valor da doutrina oficial de sua religião ou aquela defendida por suas autoridades mais notórias.

E é exatamente isso que Carlos Nougué fez: apelando para a autoridade da Igreja e de Santo Tomás de Aquino, deu um ar de dogma conciliar iluminado pela sabedoria infusa a um raciocínio totalmente mal-ajambrado.

E é isso o que procurarei demonstrar abaixo.

Após dizer que não há consenso em diversos pontos relevantes entre os que participarão das manifestações do dia 31, exceto a punição dos corruptos e a rejeição ao comunismo,  ele escreveu (negritos meus):
Ora, o católico, segundo doutrina infalível do mesmo magistério (posta porém de modo diverso de como se deu a definição contra o comunismo), não pode ser liberal nem defender o liberalismo. O militarismo (ou seja, a reivindicação de uma intervenção militar) parece-me de todo utópico no atual momento.
O católico, segundo ele, e acertadamente, não pode ser liberal e nem comunista, mas ele dá a entender, pelo contexto, que o "militarismo" - a intervenção militar - seria aceitável por não ser nem uma e nem outra coisa, só não sendo defensável porque, "no atual momento", ele lhe "parece ... de todo utópico".

Mas essa análise não faz absolutamente nenhum sentido: o que impediria um governo militar de estatizar ou privatizar todos os meios de produção, por exemplo, tornando o país comunista ou liberal, respectivamente? Ele ignora que o Derg etíope promoveu um golpe militar que, tirando o rei do poder, instituiu um regime comunistóide? Ou que o General Augusto Pinochet liberalizou a economia chilena?

Ele, então, complementa:
Quanto aos candidatos à presidência, se se mantiver o quadro atual, havemos de votar em Bolsonaro contra Lula, contra Marina, contra Aécio, assim como nos Estados Unidos haveríamos de votar em Trump contra Clinton: o que porém não quer dizer que nos identifiquemos com Bolsonaro nem, muito menos, com seu partido, protestante. Trata-se de um mal (bem) menor que os demais, ao menos se Bolsonaro se mantiver na linha em que está.

Da doutrina infalível da Igreja, que determina que um católico não pode ser liberal ou comunista, ele tira que "havemos de votar em Bolsonaro contra Lula, contra Marina, contra Aécio", o que só se sustentaria se esses 3 candidatos, ou mesmo seus partidos, fossem inequivocamente liberais ou comunistas, o que evidentemente não é o caso, pois nem isso consta dos estatutos dos partidos e nem os dois governos de Lula e tampouco as propostas das campanhas de Marina e Aécio para as eleições de 2014, por mais que envolvessem aspectos tanto socializantes como liberalizantes, jamais se aproximaram do comunismo ou do liberalismo propriamente ditos.

Quanto a Bolsonaro, sabemos muito mais do que o fato de seu partido ser, na prática, protestante (apesar disso não aparecer em seus estatutos):

1. Bolsonaro, apesar de sua assessoria ainda dizê-lo católico, foi batizado em Israel por um pastor da Igreja Assembléia de Deus.



2. Segundo a análise do caso por um teólogo e ministro luterano, seu batismo significa necessariamente a adesão à Igreja na qual foi batizado (o que, aliás, contradiz a declaração de sua assessoria).

3. Além de ter participado desse controverso ritual de batismo e pertencer a um partido com destacados membros neopentecostais - dos quais Bolsonaro é muito próximo -, sua esposa é membro da Assembléia de Deus e um de seus filhos é batista.


4. É difícil acreditar que Carlos Nougué ignore a relação íntima entre pastores evangélicos, sobretudo da Assembléia de Deus - que é a igreja à qual pertence o Pastor Everaldo, que foi quem batizou Jair Bolsonaro, e logo em Israel -, com a maçonaria - como bem resumido pelo testemunho do Pastor Caio Fábio -, e a proximidade do próprio Bolsonaro com a instituição.




Na entrevista de Feliciano e Bolsonaro ao movimento Avança Brasil Maçons, e em outra entrevista, desta vez sozinho, ao mesmo grupo, em nenhum momento Bolsonaro expressa seu repúdio à organização, o que seria de se esperar de qualquer cristão e, sobretudo, de um católico.




Por que Nougué prefere ver comunistas e liberais onde não os há, enquanto ignora a evidente ligação do partido de Bolsonaro e do próprio com a maçonaria, veementemente condenada, tanto quanto o comunismo, como lembra o canonista católico Rodrigo Pedroso, pelo mesmo magistério infalível da Igreja que Nougué diz tomar como base?


E Nougué continua:
Mas parece-me que devemos apoiar decididamente a restauração da monarquia, pelas razões dadas em O movimento monarquista brasileiro e em Discurso do Príncipe D. Bertrand. Em resumo, o movimento monarquista e seu fim podem vir a constituir um efetivo bem, ainda que não o bem absolutamente desejável (mas também absolutamente impossível hoje) no âmbito do político.
Como uma intervenção militar seria algo "de todo utópico" mas a restauração da monarquia algo factível, sobretudo se levarmos em consideração que o Exército é a instituição em que os brasileiros mais confiam, sendo que, por outro lado, os brasileiros rejeitaram, com 79% dos votos, o parlamentarismo em 1963 e voltaram a fazê-lo no plebiscito em 1993, em que mais de 44 milhões votaram pela manutenção da República, contra menos de 7 milhões favoráveis à restauração da monarquia?

Afora isso, o que Dom Bertrand tem defendido é a monarquia parlamentarista, como Nougué até reconhece no artigo citado, o mesmo em que ele pretende defender um apoio ao "príncipe" com base em ninguém menos que Santo Tomás de Aquino (!!). Ora, tentar colocar essa discussão em termos tomistas é falsificá-la completamente: o Doutor Angélico viveu séculos antes que sequer fossem imaginados o estado-nação e a "democracia" liberal atuais, com seus "contratos sociais" e suas "monarquias parlamentares". Tentar escorar-se em sua autoridade para apoiar esse ou aquele postulante a rei é de um artificialismo e uma falta de rigor que certamente fariam o mesmo Santo Tomás reprovar o notório tomista fluminense caso esse fosse seu discípulo.

Voltando ao texto, no referido "O movimento monarquista brasileiro", Nougué havia dito:
Com efeito, a atual família real é membro do IPCO (Instituto Plínio Correia de Oliveira, antiga TFP – Tradição, Família e Propriedade). A TFP teve destacada participação não só no movimento popular que ajudou a evitar em 1964 o comunismo, mas no Concílio Vaticano II (onde atuou ao lado dos bispos tradicionalistas que tentaram evitar a catástrofe que enfim se consumaria).
 E o que se sabe da TFP, de Dom Bertrand e do movimento monarquista brasileiro?

1. Da TFP,  como atesta o Prof. Orlando Fedeli, sabe-se que um dia ao menos abrigou a seita secreta denominada Sempre Viva, que envolvia inclusive um culto à mãe do Dr. Plínio, Da. Lucília, o que sugere também suas semelhanças com o culto gnóstico ao Eterno Feminino que perenialistas schuonianos e "olavettes" acreditam ter se manifestado como a Virgem Maria. Além disso, há a "filosofia gnóstica" defendida também pelo Dr. Plínio em livro que pode ser baixado daqui e que foi analisado aqui pelo Prof. Fedeli.

2. O blog oficial de D. Bertrand chama-se Paz no Campo. Lá ele afirma, como se lê clicando-se em "Quem somos nós":
Nós somos os continuadores da luta de Plinio Corrêa de Oliveira...
Se o leitor fizer uma busca pelo termo "distributismo" - que é o desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja - no blog de D. Bertrand, encontrará a seguinte resposta:


Já se o leitor fizer uma busca pelos termos "liberal" ou "liberalismo", encontrará a recomendação de vários textos favoráveis às políticas neoliberais.

Na mesma linha, O Príncipe dos Cruzados - um site favorável a Dom Bertrand e à TFP - sequer percebe a diferença entre defender a propriedade privada - como faz a DSI - e uma suposta defesa do capitalismo sem "seus abusos". Não sei se isso é fruto de falta de estudo ou falsificação deliberada mesmo.

3. Quanto ao movimento monarquista, o blog "Maçonaria - Estudos Críticos" aponta para o seguinte fato:
...recentemente, viu-se o notório maçon, o "Comendador" Antonyo da Cruz, Presidente do Instituto Brasil Imperial - IBI - ser tratado com toda a pompa e circunstância em importante encontro monarquista, no Rio de Janeiro, chegando mesmo a dividir a Mesa de direção dos trabalhos, sentando-se a direita de S.A.I. e R. D. Bertrand de Orléans e Bragança! Não é curioso que o Ilustre Príncipe, que nutre profunda ojeriza pelos Integralistas, se sinta tão a vontade na companhia de um maçon?!
Ele então atesta o que diz postando o link para essa foto:



Sabendo-se também do apoio do blog e canal "olavette" Terça Livre ao movimento monarquista e a D. Bertrand, além das frequentes referências positivas de Olavo de Carvalho tanto a ele, como a Bolsonaro e também à maçonaria, e levando-se em consideração os fatos acima apontados, fica evidenciada uma estreita relação entre Jair Bolsonaro, de um lado, e o movimento monarquista brasileiro e D. Bertrand do outro, seja com o protestantismo, a maçonaria, o liberalismo ou o gnosticismo - os quatro condenados pela Igreja -, relação essa muito mais determinante para sua rejeição do que sugerem os aspectos socializantes e liberalizantes que por ventura se encontrem em Lula, Marina, Aécio ou seus respectivos partidos.

Carlos Nougué não "forçou a barra" somente: ele apelou para o magistério da Igreja e para a autoridade de Santo Tomás de Aquino para, distorcendo-os, avançar uma agenda política cujos agentes oferecem um risco muito maior à Igreja do que as opções por ele descartadas.

O fatwa do Aitolá Khomeini sobre Salman Rushdie pelo menos o condenou à morte por atribuir ao fundador do Islã a recepção dos tais Versos Satânicos. Já o fatwa do Aiatolá Nougué quer aproximar os católicos brasileiros dos defensores de doutrinas rejeitadas pela Igreja.

Parece-me que o Crislã tupiniquim será o sincretismo do pior de cada um dos lados.

14 comentários:

  1. Creio ser meio injusto ter o movimento monarquista desta forma. O que foi dito aqui a respeito de Dom Bertrand é suficiente para levantar suspeitas A declaração de continuação da luta de Plínio Corrêa de Oliveira por si só não é útil para evidenciar a continuação de seus erros, pois pode ser simplesmente a continuação daquilo que pudera ter acertado. Buscando por Doutrina Social é possível encontrar alguns resultados, embora o que eu tenha encontrado seja bastante confuso, confesso; em um dos textos é utilizado uma passagem da Rerum Novarum para justificar oposição às propriedades coletivas, de outro lado percebi certo ceticismo quanto à Doutrina Social da Igreja e acredito que seja tema para uma melhor pesquisa. O mais grave sem dúvidas é o possível envolvimento com aquele maçon, só que isso também não sinaliza em uma sitónia de idéias entre os dois, e nem de que em uma monarquia a maçonaria exerceria forte influência. Sou favorável à monarquia por ver nela um sistema muito mais coerente em relação à república, e mesmo que grande parte do que foi dito no artigo seja verdade, ainda vejo como menor em relação às condições atuais da República. Seja qual opção for, Lula, Dilma, Aécio, Marina, os rumos tomados serão parecidos, para não citar que claramente alguns de forma mais intensa possuem ligação com a maçonaria e/ou tomam condutas extremamente maléficas ao país. Parte disso é evidente ao perceber que a única mudança visível entre Dilma e Temer é a intensidade das ações. Apesar de defensor da monarquia, sou ciente de que é improvável um retorno ao regime, mas o mesmo é muito superior a esta república falida. Se os meios de defesas do Nougué não foi dos melhores, devo dizer que ainda assim a monarquia ainda se trata de uma boa opção, apesar das controvérsias às quais a família Bragança possa estar envolvida.

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  2. Os professores Carlos Nougué e Sidney Resende alguns anos atrás tiveram uma desavença séria com o bruxo Olavo de Carvalho. Não sei se os artigos mostrando essas discussões se encontram no Mídia Sem Máscara; lembro que foi no período que ainda se podia colocar comentários no site do bruxo da Virginia, mas lembro muito bem que a maioria dos que comentavam atacavam os professores Nouqué e Resende de forma vergonhosa e com a colaboração de alguns pastores protestantes que ali comentavam.

    Sobre o PSC (Partido Social Cristão), partido do qual faz parte o picareta Bolsonaro, pelo que sei foi fundado por católicos: para hoje ser dominado por maçons protestantes, é uma prova de que o catolicismo no Brasil vai de mal a pior.

    Sobre os militares, acredito que o professor Nougué deve ter a imagem dos mesmos durante o Regime Militar. Não é segredo para ninguém que os militares quando tomaram o poder eram bem estatistas.

    De lá pra cá os militares brasileiros ainda continuam não sendo muito favoráveis em "liberalizar" a economia nacional e são bem populistas. Faz sentido o professor Nougué falar desse modo sobre os militares.

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    1. Ele não falou "desse modo sobre os militares" no sentido de dizer que eles são estatistas, e nem sequer liberais. Você está falando de um texto que você imaginou, não o que ele escreveu.

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  3. Talvez o que ainda seja pior no Sr. Nougué é o fato de reconhecer um herege público como Papa...

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  4. Trump, assim como Hilary, não é um bom candidato:

    http://www.dailywire.com/news/5749/both-trump-and-clinton-went-jeffrey-epsteins-sex-amanda-prestigiacomo

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    1. Trump envolvido em escândalo de pedofilia e orgias!
      Nossa, isso vai ficar cada vez mais divertido!

      Independente de quem vença as eleições americanas: o vencedor vai declarar guerra a Russia. Caso Trump seja o vencedor, esse escândalo da sua vida privada vai fazer com ele se volte contra Putin e a Russia para que não venha à tona.

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    2. trump e hillary são 2 marionetes dos judaicos-mulçumanos maçons

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    3. Quem dera fosse só esses dois
      https://www.youtube.com/watch?v=CvaboH13QDo

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  5. Chega de chorumelas...o fato 'e o seguinte: se a monarquia dar um afago no olavo entao sera considerada o sistema perfeito, maravilhoso, lindo e que melhor nao ha..agora se for o contrario todos os olavettes sairao espumando de raiva e falando que tudo e uma merda, um complo..'e simples

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  6. Sabe pq o Olavion cu de urson paga pau as escondidas, dando ares de putinha, a ciro gomes, silas malafaia etc ? e gente como bolsanaro ele so atura?
    olavion safadinho!

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  7. Olavo nunca mais encarnou a paralaxiva do Goldoni...

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  8. Quando uma das olavetes começa a criticar a direita judaica maçônica, tenho esperança de que as coisas podem mudar:

    https://www.youtube.com/watch?v=kOljOOpI3mM

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  9. cade o espantalho?
    "https://www.facebook.com/ojardimdasaflicoes/videos/911709472292009/"
    resumo da relacao pedagogica olavettica com o seu criador...nao preciso dizer mais nada:

    Minha mulher gostava quando eu lhe batia
    E quanto mais ela apanhava, mais ela dizia
    Bata nego, pode bater
    Bata com força que eu não sinto doer

    Pode bater com as duas mãos nessa nega que é sua
    Começa dentro de casa e termina no meio da rua
    Se alguém vier reclamar não de atenção
    Bata com força nego no meu coração

    Bata nego, pode bater
    Bata com força que eu não sinto doer
    Não se incomodo que a vizinha lhe chame de biriteiro
    E que você não da dinheiro pra comprar o pão
    Tenho satisfação, sou mulher de verdade
    Nego por caridade Não deixe de bater não


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